Manifestantes fazem ato em frente à Casa da Morte, em Petrópolis
Por: Por Juliana Castro (juliana.azevedo@oglobo.com.br) | Agência O Globo
RIO - Em ato realizado nesta sexta-feira em frente à Casa da Morte, em Petrópolis, grupos de direitos humanos pediram a identificação e preservação de lugares que serviram de prisões e centros de tortura durante a ditadura militar. Eles defendem que seja criados memoriais ou museus em pelo menos quatro locais no Estado do Rio: na Casa da Morte, no prédio da Polícia Civil da Rua da Relação (ex-Dops), no Batalhão de Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita (onde funcionava a sede do DOI-CODI no Rio), e no Estádio Caio Martins, em Niterói.
Durante o ato em frente à Casa da Morte, centro de tortura operado por militares, os manifestantes escreveram no chão, a giz, os nomes dos militantes que teriam passado pelo local. Eles também levaram cartazes pedindo a desapropriação do imóvel, e um grupo teatral fez uma apresentação.
- Esse período faz parte da história, e a criação destes centros de memória ajudarão a revelar o que aconteceu, como o Estado agia. Também é um modo de preservar a história do país, de mostrar que pessoas que lutavam pela liberdade morreram e uma forma de que as gerações futuras tenham na lembrança o que aconteceu - disse Mariana Barros, do Centro de Referência de Direitos Humanos do Estado do Rio.
Por meio de decreto publicado em agosto, a prefeitura de Petrópolis declarou de utilidade pública o imóvel onde funcionou a Casa da Morte. Segundo texto, a casa será destinada à implantação de um museu chamado Memorial de Liberdade, Verdade e Justiça. Membros dos grupos que defendem a criação de um centro de memória ali dizem que este é o primeiro passo para a desapropriação.
Além do ato em frente à Casa da Morte, foram exibidos documentários e foi feito um debate no Palácio Rio Negro, também em Petrópolis. A advogada Rosa Cardoso, membro da Comissão Nacional da Verdade, participou do evento. No âmbito da preservação da memória, a comissão já expediu recomendações, como a que pede mudança na destinação do prédio onde funcionou o Dops no Rio. Atualmente, funciona no local o Museu da Polícia Civil. A comissão também também reforçou a ideia de que os Doi-Codi do Rio e de São Paulo sejam transformados em centros de Memória.
- No Brasil, ainda há um atraso muito grande em relação a outros países, como Argentina e Uruguai. Os familiares levam essa luta há muito tempo. A iniciativa dos governos começou timidamente, mas pelo menos queremos o reconhecimento dos fatos para ter a memória garantida. Acredito que, se estes debates da Comissão da Verdade se aprofundarem, a gente pode esclarecer algumas coisas, como, por exemplo, saber quem passou pela Casa da Morte - disse o engenheiro Romildo Maranhão do Valle, de 65 anos, irmão de Ramires, desaparecido em 1973, quando estava prestes a completar 23 anos.
As atividades dão sequência ao Seminário Latino-americano de Lugares de Memória, realizado em novembro no Arquivo Nacional, no Centro do Rio. Os eventos fazem parte de manifestações em torno do Dia Internacional de Direitos Humanos, no dia 10 de Dezembro. O ato e os debates foram idealizados pelo Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça; a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis, o Comitê Petrópolis em Luta; e a Articulação Estadual pela Memória, Verdade e Justiça RJ.
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