Por meio da Nota abaixo, o Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça vem
expressar sua preocupação e reprovação em relação à divulgação de uma parceria
desta Universidade Federal Fluminense com o Clube Militar, para a realização de
evento intitulado “Luta Armada no Brasil e o Dever do Estado”, a ser realizado
no próximo dia 14 de março, às 14h 30min, na sede do Clube Militar, no centro
do Rio de Janeiro.
Trata-se de evento com falas restritas a
posições defensoras do golpe civil-militar e da violência sistemática de Estado
contra a resistência política - neste
momento próximo a data do golpe de 1964, que segmentos conservadores insistem
em comemorar anualmente.
O debate sobre a ditadura é necessário e a
universidade tem um papel importante neste processo, devendo promover
espaçosplurais e comprometidos com a verdade sobre este passado que tanto
repercute e se reproduz no presente na sociedade brasileira. Uma visão crítica
ao golpe civil-militar e promotora de direitos humanos deveria ser contemplada.
Lamentamos, também, que a UFF ao invés de
empreender ações no sentido de esclarecer fatos sobre o passado – com a criação
uma comissão da verdade interna, tal como outras universidades têm empreendido
– venha a manifestar apoio a uma postura pró-golpe. Os direitos humanos não
podem uma vez mais ser desconsiderados neste debate, como foram durante anos
pelos sucessivos governos pós-ditadura, que ocultaram e se desresponsabilizaram
dos crimes de lesa humanidade.
Enfatizamos também que não nos calaremos diante
de movimentos antidemocráticos e enaltecedores do que foi da ditadura
civil-militar no Brasil, especialmente quando organizados e apoiados pela
universidade pública brasileira.
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Rio
de Janeiro 13 de Março de 2013
Prezado Sr. Reitor da
Universidade Federal Fluminense, Roberto de Souza Salles,
Prezados integrantes do
Conselho Universitário da Universidade Federal Fluminense,
O Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça[1], coletivo
que reúne militantes e organizações empenhadas no resgate da memória e da
verdade do que ocorreu durante a ditadura civil-militar brasileira e que luta
pela divulgação dos responsáveis pela tortura, assassinato e desaparecimento
dos corpos de centenas de pessoas que desafiaram o autoritarismo do período,
vem por meio desta expressar sua preocupação com a divulgação de uma parceria
desta Universidade Federal Fluminense com o Clube Militar, para a realização de
evento intitulado “Luta Armada no Brasil e o Dever do Estado”, a ser realizado
no próximo dia 14 de março, às 14h 30min, na sede do Clube Militar, no centro
do Rio de Janeiro.
A divulgação do evento e da parceira tem sido feita através do
portal do Clube Militar[2]
e da própria Universidade[3].
A partir do conhecimento de tal evento, o Coletivo RJ expressa à
Reitoria e ao Conselho Universitário:
i)
O repúdio à notícia de uma “parceria” com o Clube Militar para
organização de eventos sobre a ditadura-civil militar vivida no Brasil entre
1964 e 1988. Esta entidade privada tem publicamente questionado a legitimidade
da Comissão Nacional da Verdade e tem promovido eventos para a comemoração do
golpe civil-militar de 1964 em claro retrocesso ao processo democrático que
vivenciamos;
ii)
O repúdio à restrição do debate sobre o tema “Luta Armada no
Brasil e o Dever do Estado”, com falas restritas a posições defensoras do golpe
civil-militar e da violência sistemática de Estado contra a resistência
política. Este questionamento baseia-se no entendimento de que é bem-vinda a promoção
de debates plurais e respeitadores da liberdade de expressão e da promoção
democrática do debate politico. No entanto, entendemos que, para tanto, a visão
crítica ao golpe civil-militar e promotora de direitos humanos deveria ser
contemplada. Incentivamos e participamos de qualquer debate sobre o que foi a
ditadura civil-militar no Brasil que seja plural e comprometido com a verdade
sobre este passado que tanto repercute e se reproduz no presente na sociedade
brasileira; e
iii)
O questionamento sobre a escolha do mês de março para a
realização de tal evento e a relação que este possa ter com a comemoração do
golpe de 1964 que anualmente o referido Clube Militar realiza.
Por fim, gostaríamos de ressaltar a preocupação com que
recebemos esta notícia de que a UFF está realizando um debate em parceira
direta com o Clube Militar, na sede do clube militar e de forma unilateral.
O debate sobre a ditadura é necessário e a universidade tem um
papel importante neste processo. Lamentamos, entretanto, que a UFF ao invés de
empreender ações no sentido de esclarecer fatos sobre o passado – com a criação
uma comissão da verdade interna, tal como outras universidades têm empreendido
– venha a manifestar apoio a uma postura pró-golpe.
Os direitos humanos não podem uma vez mais serem desconsiderados
neste debate, como foram durante anos pelos sucessivos governos pós-ditadura,
que ocultaram e se desresponsabilizaram dos crimes de lesa humanidade.
Enfatizamos também que não nos calaremos diante de movimentos antidemocráticos
e enaltecedores do que foi da ditadura civil-militar no Brasil, especialmente
quando organizados e apoiados pela universidade pública brasileira.
Coletivo RJ Verdade Memória e Justiça
ANA MARIA MULLER
ANA MARIA MULLER
Gente, me somo a essa iniciativa do Coletivo RJ, Memória, Verdade e Justiça. Como ex-aluno da UFF, considero ultrajante que uma universidade que teve muitos alunos cassados e expulsos pela famigerada Lei Suplici, outros tantos presos, torturados, exilados e alguns assassinados brutalmente na Casa da Morte, como Ivan Mota Dias (aluno do Curso de História) se associe a um evento dessa índole. Só na minha turma de Ciências Sociais do período 1966-1969, de um total de cerca de 15 alunos, apenas 8 chegaram à formatura, os demais foram perseguidos, cassados, tiveram que passar à clandestinade, foram presos, torturados, exilados, banidos. Além dos inúmeros professores e funcionários perseguidos e cassados. Trata-se de um desrespeito à memória da própria UFF, às suas tradições democráticas e a todos aqueles que lá, no exercício de suas vidas acadêmicas discentes ou docentes aprenderam a conhecer mais de perto a história , a ciência, a amar o Brasil, a liberdade e assumir compromissos com um futuro digno para o povo brasileiro.
ResponderExcluirUmberto Trigueiros Lima
Ola
ResponderExcluirSou filho de prisioneiro politico, torturado e monitorado durante a ditadura civil-militar de 1964, hoje resido em Niteroi.
Sou militante em Direitos Humanos e me somo a voces
Jose Luiz da Silveira Ballock
Fone 21 3723 7007
Que absurdo!!! Como a UFF, pelos seus docentes, possibilita uma loucura dessa!!? O departamento de história mudou muito nestes últimos anos e mostra a sua cara conservadora e fascista... LAMENTÀVEL!!!
ResponderExcluir"Como vai abafar
ResponderExcluirNosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você"
(Chico Buarque)
Nota sobre o evento, publicada pelo Instituto de Estudos Estratégicos, à respeito da utilização de seu nome como apoio em cartazes do evento (http://imageshack.us/photo/my-images/820/86284810200976239274218.jpg/) e na publicação oficial, no site da reitoria da UFF:
ResponderExcluirhttp://www.inest.uff.br/index.php/not/494-nota-a-comunidade-academica