quinta-feira, 20 de junho de 2013
DIREITOS HUMANOS SEM PARTICIPAÇÃO?
Durante décadas por sermos opositores do golpe e da ditadura civil-militar (1964-1988) fomos reprimidos, perseguidos, detidos, presos, torturados, exilados, banidos, mortos ou desaparecidos. Interromperam nossas vidas: trabalho, afetos, artes, ciências, prazeres e desejos.
Não tínhamos direito à terra embora nela trabalhássemos, não podíamos fazer greves por salários ou por mais vagas nas universidades. Os transportes públicos foram privatizados e na medida em que ficaram piores tiveram suas tarifas aumentadas. Para construir pontes, viadutos e túneis – privilegiando os caros, poluidores e atravancadores transportes particulares – destruíram as vielas, os becos, as praças, as ruas e até avenidas, com suas casas, igrejas, campinhos de futebol, áreas de lazer e de convivência.
Como as condições de vida e de trabalho no campo eram muito piores do que nas cidades nos amontoamos em favelas horizontais ou verticais, barrancos e precipícios. Fizeram remoções, destruíram nossos barracos, depois de terem invadido as terras onde vivíamos com nossas tribos ou comunidades. Para alguns de nós se estava ruim no campo ficou pior na cidade, então voltamos. Mas as ligas e os sindicatos eram reprimidos, os movimentos marginalizados, até que admitiram os movimentos dos “sem terra” ao perceberem que se acalma um povo que não tem reforma agrária, com acampamentos provisórios, e a espera da sonhada terra para todos que nela trabalham.
A Reforma Agrária não veio ainda, mas os camponeses ainda têm esperança, embora às vezes percamos a paciência.
Um cantor popular cantava “Povo marcado, povo feliz” porque apesar de tocado de um lado para outro como gado estabulado a massa entra e sai das barcas, dos trens, dos ônibus lotados com alegria e disposição. Cinco dias da semana amassados, sofrendo mais nos transportes urbanos do que propriamente nos empregos informais, precários e mal remunerados. Fim de semana: “bicos nas feiras”, nos trens e ônibus, ou nas praias, vendendo balas e outras “distrações para as longas e cansativas viagens”.
Mas no fim de semana tinha futebol, no “Maracanã” ou “Maráca” para os íntimos, onde assistíamos da “Geral” – separados por um fosso – os nossos ídolos, heróis que conseguiram deixar as favelas e conquistar o asfalto. Eventualmente umas cacetadas dos policiais militares, mas nenhuma detenção ou prisão e não tinha bombas de gás ou balas de borracha!
Muitos lutaram contra a ditadura, muitos foram mortos, desaparecidos, presos e exilados. Mas a anistia foi conquistada, ainda que não a “Ampla, Geral e Irrestrita” que defendíamos com o julgamento e a punição dos criminosos que roubaram a nação, a sociedade, o povo, os estudantes, os trabalhadores, as famílias, nossos direitos, desejos e sonhos.
Agora estamos em um Estado de Direito, mas não podemos ir às ruas reclamar dos preços das passagens, dos gastos suntuosos com os estádios de futebol onde as elites irão gastar centenas de reais para sentar em arquibancadas com cadeiras coloridas e comprar lanches com dezenas de reais. Mas não somos todos ricos, pelo contrário, a grande maioria de nós é pobre ou está abaixo da linha de pobreza! Nossas aposentadorias são minguadas, nossos salários mal acompanham a inflação, os preços de tudo aumentam desesperadamente.
Não merecemos gás de pimenta nos olhos, não merecemos balas de borracha, não merecemos gás lacrimogêneo.
Somos a força de trabalho (ou seu exército de reserva) que construiu essa nação. Toda a riqueza apropriada por poucos, toda a renda apoderada por poucos, todos os privilégios usufruídos por poucos se deve ao trabalho de muitos de nós.
Merecemos ser bem tratados. Não queremos nenhum privilégio. Só queremos direitos humanos: trabalho, salário, dignidade, serviços públicos – saúde, educação, cultura, transportes, segurança, água e esgoto, equipamentos públicos – em cidades que sejam para todos.
Não somos exclusivistas, não queremos condomínios fechados, áreas restritas, ruas particulares. Queremos os amplos espaços de liberdade, onde possamos namorar, nos abraçar e beijar, cantar, dançar e eventualmente trabalhar para garantir o que comer, vestir, habitar e gozar.
Liberdade não se ganha, se conquista. Igualdade é mais difícil, mas é preciso vencer a ganância e os preconceitos e conquistá-la também, pois liberdade sem igualdade é uma farsa! Sem a solidariedade não conseguimos direitos iguais para todos, conforme nossas necessidades que são desiguais, ainda mais que nossas possibilidades também são desiguais! Mas como conseguir Liberdade, Igualdade e Solidariedade sem respeito à Diversidade e Participação?
Às ruas: jovens e veteranos cidadãos! Nada tendes a perder a não ser o medo. Não se pode aceitar provocações dos que se colocam a serviço da repressão porque não lhes ensinaram a defender a população contra os criminosos que a exploram e dominam. Com tranquilidade e firmeza hoje somos centenas, mas amanhã seremos milhares a caminhar livremente pelas ruas e praças, e se continuarmos assim ainda cairemos numa DEMOCRACIA!
Paulo Ribeiro
Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça
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