quarta-feira, 26 de junho de 2013

Pela não-repetição de violações de direitos humanos!


O Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça vem a público expressar seu apoio às reivindicações históricas de movimentos sociais que, hoje, têm levado às ruas centenas de manifestações pelo país, com a presença massiva da população. Entretanto, expressamos também nosso repúdio à forma violenta e antidemocrática com a qual o poder público municipal, estadual e federal tem reagido a estas manifestações.

Estão sendo pautadas questões justas, claras e que refletem a luta dos movimentos por liberdade e por direitos. Entre elas estão a redução da tarifa e melhoria do transporte público urbano; a transparência na organização dos megaeventos esportivos e a abertura para se discutir publicamente suas intervenções e seus impactos na cidade, com atenção à forma como a população vem sendo atingida (com remoções e despejos de moradores, privatização de equipamentos públicos, recolhimentos compulsórios e políticas higienistas, etc.); bem como a denúncia contra a violência policial que acompanhamos todos os dias nas periferias e favelas das grandes cidades.

É fundamental e inegociável a defesa da liberdade política e de manifestação do povo brasileiro, em um Estado democrático. No entanto, tem-se instaurado um contexto repressor e autoritário mais próximo ao que se viveu em tempos de ditadura civil-militar no Brasil.

O Coletivo RJ acompanha os trabalhos das Comissões da Verdade – Nacional e Estadual do Rio de Janeiro – pautando discussões e reflexões no sentido de esclarecer episódios de violações cometidas pelo Estado brasileiro contra seus cidadãos no período ditatorial. Neste sentido, é importante refletirmos também sobre o legado autoritário e militarizado das forças de segurança pública.

O que temos presenciado nas últimas manifestações, é uma postura violenta do Estado que, através de suas polícias, tem reprimido duramente manifestantes, buscando silenciar o debate público, tal como nos tempos de chumbo. Em todo o Brasil, foram instauradas situações de confronto e violência policial que, no caso do Rio de Janeiro, não se restringiu ao uso de armas ditas “não-letais” – como balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. Tornaram-se públicas imagens de policiais lançando mão de armamento como fuzil e pistola.

Estes incidentes se agravam em regiões historicamente marcadas pela violência policial, como é o caso do Complexo da Maré onde se instaurou um cenário de terror que resultou na morte de 13 pessoas, incluindo 1 policial. O contexto de uma manifestação popular originou uma operação policial com o efetivo de cerca de 400 policiais do BOPE, da Tropa de Choque e da Força Nacional. Esta operação injustificada e desproporcional resultou em execuções sumárias, conforme apontado por organizações de direitos humanos.

Mais uma vez as forças policiais do estado do Rio de Janeiro, somadas ao reforço da Força Nacional, operam práticas de criminalização dos movimentos sociais e da pobreza.

Cumpre destacar o papel da grande mídia que busca legitimar a ação policial ao reproduzir discursos criminalizadores, taxando de imediato as pessoas envolvidas como ‘vândalos’, ‘baderneiros’ e, agora, ‘traficantes’ – da mesma forma como no passado ditatorial muitos foram taxados de ‘terroristas’ e ‘subversivos’.

É importante ressaltar o papel de setores empresariais que muito lucram com a comercialização dos instrumentos “não-letais” de repressão no Brasil e que exportam seus ‘produtos’, por exemplo, para a repressão de manifestantes em outros países, o exemplo da Turquia (como é o caso da empresa ‘Condor’). Este ramo lucrativo e criminoso conta com apoio de parlamentares cujas campanhas financiadas devem ser também questionadas.

Nesse sentido, apoiamos amplamente a campanha pela desmilitarização das polícias, e pelo fim das polícias militares, que representam um resquício ditatorial de manutenção da postura autoritária do Estado.

Exigimos também a responsabilização dos agentes do Estado envolvidos na atual repressão à liberdade de manifestação e principalmente dos seus comandantes. Destacamos a importância de também lançarmos luz sobre os crimes e a estruturação do Estado brasileiro durante a ditadura civil-militar, para que possamos na democracia evitar que as mesmas práticas da ditadura sigam acontecendo.

Lutamos pela verdade, memória e justiça sobre violações da ditadura e pela não-repetição destas violações no Brasil democrático.

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