[Por Daniel Israel] Abraçado como revolução por uma minoria de brasileiras e brasileiros, na cidade do Rio de Janeiro, o golpe civil-militar de 1964 foi lembrado em seu 49º aniversário, na última segunda-feira (1/4), com um protesto no Centro. Uma vez mais, os presentes repudiaram a herança maldita dos 21 anos de repressão institucionalizada por cinco generais, um após o outro.
Cerca de 150 pessoas compareceram à Praça Mahatma Gandhi, na Cinelândia, para prestar solidariedade a familiares de opositores à ditadura. Do palanque improvisado, via-se com mais clareza as fotos, que exibiam integrantes da resistência que tombaram. Também havia faixas e cartazes que, entre outros temas, exigiam a abertura dos arquivos da ditadura, a revelação do paradeiro de desaparecidos e a participação concreta da sociedade na Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em novembro de 2011, a Comissão da Verdade não possui caráter punitivo, limitando-se à apuração de violações aos direitos humanos que ocorreram entre 1946 e 1988. Para Mario Augusto Jakobskind, jornalista que enfrentou a ditadura, só a pressão da sociedade poderá levar ao que se reivindicava em uma das faixas expostas na manifestação:
- A punição vai depender da pressão da opinião pública. Porque todos os fatos que ocorreram na ditadura –uma ditadura civil e militar—, precisam ser conhecidos. São crimes de lesa-humanidade, o que os torna imprescritíveis.Como já se passaram muitos anos, vários desses torturadores morreram ou estão com idade avançada e dificilmente serão punidos.
Com ou sem punição, cabe constatar que o assunto mexe de tal modo com o orgulho nacional, que desde a redemocratização no Brasil foi possível aglutinar atores de diferentes gerações e matizes ideológicos diversos. É o que pensa Leonardo Freire, que participa do Levante Popular da Juventude (LPJ):
- Esta é uma pauta capaz de reunir toda a esquerda, com tantas divisões. Esse acúmulo é muito importante, principalmente para a juventude. Não queremos apenas a abertura de arquivos, mas que também sejam alterados nomes de escolas e monumentos pela cidade.
O Levante, movimento de base estudantil (secundarista e universitária) com alcance nacional, tem se notabilizado pelas ações de escracho. O escracho consiste na realização de manifestações em frente às casas de torturadores. Durante a ação, os jovens fazem questão de lembrar este que, na opinião de Jakobskind, foi "o período mais negativo de nossa história".
Entidades lutam por memória e justiça
Foto: Pablo Vergara
Além do Levante, outras organizações estão envolvidas na luta pelo não-apagamento das atrocidades cometidas durante os chamados "anos-de-chumbo". Uma delas é o Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça, que em nível estadual se articula junto a entidades. Ana Miranda, integrante do Coletivo RJ, diz que para aprimorar nossa democracia "a gente precisa saber o que aconteceu e dizer que não se repita":
- Não se pode fingir que não existiu um Estado de terror, que sequestrou, torturou, criou Casas da Morte e desapareceu com cadáveres.
Ana também comentou um assunto fundamental, porém espinhoso: a democratização da mídia. Ela ressaltou a contribuição que parte significativa dos principais meios de comunicação prestou --e ainda hoje presta-- aos militares:
- Evidente que a mídia não-alternativa, quase oficial, não coopera muito, mas vai aos poucos sendo pressionada, aqui e ali sai alguma coisa.
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