quinta-feira, 14 de março de 2013

Repúdio à parceria UFF e Clube Militar


Por meio da Nota abaixo, o  Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça vem expressar sua preocupação e reprovação em relação à divulgação de uma parceria desta Universidade Federal Fluminense com o Clube Militar, para a realização de evento intitulado “Luta Armada no Brasil e o Dever do Estado”, a ser realizado no próximo dia 14 de março, às 14h 30min, na sede do Clube Militar, no centro do Rio de Janeiro.

Trata-se de evento com falas restritas a posições defensoras do golpe civil-militar e da violência sistemática de Estado contra a resistência política -  neste momento próximo a data do golpe de 1964, que segmentos conservadores insistem em comemorar anualmente.

O debate sobre a ditadura é necessário e a universidade tem um papel importante neste processo, devendo promover espaçosplurais e comprometidos com a verdade sobre este passado que tanto repercute e se reproduz no presente na sociedade brasileira. Uma visão crítica ao golpe civil-militar e promotora de direitos humanos deveria ser contemplada.

Lamentamos, também, que a UFF ao invés de empreender ações no sentido de esclarecer fatos sobre o passado – com a criação uma comissão da verdade interna, tal como outras universidades têm empreendido – venha a manifestar apoio a uma postura pró-golpe. Os direitos humanos não podem uma vez mais ser desconsiderados neste debate, como foram durante anos pelos sucessivos governos pós-ditadura, que ocultaram e se desresponsabilizaram dos crimes de lesa humanidade.

Enfatizamos também que não nos calaremos diante de movimentos antidemocráticos e enaltecedores do que foi da ditadura civil-militar no Brasil, especialmente quando organizados e apoiados pela universidade pública brasileira.



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Rio de Janeiro 13 de Março de 2013


Prezado Sr. Reitor da Universidade Federal Fluminense, Roberto de Souza Salles,
Prezados integrantes do Conselho Universitário da Universidade Federal Fluminense,


O Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça[1], coletivo que reúne militantes e organizações empenhadas no resgate da memória e da verdade do que ocorreu durante a ditadura civil-militar brasileira e que luta pela divulgação dos responsáveis pela tortura, assassinato e desaparecimento dos corpos de centenas de pessoas que desafiaram o autoritarismo do período, vem por meio desta expressar sua preocupação com a divulgação de uma parceria desta Universidade Federal Fluminense com o Clube Militar, para a realização de evento intitulado “Luta Armada no Brasil e o Dever do Estado”, a ser realizado no próximo dia 14 de março, às 14h 30min, na sede do Clube Militar, no centro do Rio de Janeiro.

A divulgação do evento e da parceira tem sido feita através do portal do Clube Militar[2] e da própria Universidade[3].

A partir do conhecimento de tal evento, o Coletivo RJ expressa à Reitoria e ao Conselho Universitário:

i)             O repúdio à notícia de uma “parceria” com o Clube Militar para organização de eventos sobre a ditadura-civil militar vivida no Brasil entre 1964 e 1988. Esta entidade privada tem publicamente questionado a legitimidade da Comissão Nacional da Verdade e tem promovido eventos para a comemoração do golpe civil-militar de 1964 em claro retrocesso ao processo democrático que vivenciamos;

ii)            O repúdio à restrição do debate sobre o tema “Luta Armada no Brasil e o Dever do Estado”, com falas restritas a posições defensoras do golpe civil-militar e da violência sistemática de Estado contra a resistência política. Este questionamento baseia-se no entendimento de que é bem-vinda a promoção de debates plurais e respeitadores da liberdade de expressão e da promoção democrática do debate politico. No entanto, entendemos que, para tanto, a visão crítica ao golpe civil-militar e promotora de direitos humanos deveria ser contemplada. Incentivamos e participamos de qualquer debate sobre o que foi a ditadura civil-militar no Brasil que seja plural e comprometido com a verdade sobre este passado que tanto repercute e se reproduz no presente na sociedade brasileira; e

iii)           O questionamento sobre a escolha do mês de março para a realização de tal evento e a relação que este possa ter com a comemoração do golpe de 1964 que anualmente o referido Clube Militar realiza.

Por fim, gostaríamos de ressaltar a preocupação com que recebemos esta notícia de que a UFF está realizando um debate em parceira direta com o Clube Militar, na sede do clube militar e de forma unilateral.

O debate sobre a ditadura é necessário e a universidade tem um papel importante neste processo. Lamentamos, entretanto, que a UFF ao invés de empreender ações no sentido de esclarecer fatos sobre o passado – com a criação uma comissão da verdade interna, tal como outras universidades têm empreendido – venha a manifestar apoio a uma postura pró-golpe.

Os direitos humanos não podem uma vez mais serem desconsiderados neste debate, como foram durante anos pelos sucessivos governos pós-ditadura, que ocultaram e se desresponsabilizaram dos crimes de lesa humanidade.

Enfatizamos também que não nos calaremos diante de movimentos antidemocráticos e enaltecedores do que foi da ditadura civil-militar no Brasil, especialmente quando organizados e apoiados pela universidade pública brasileira.


Coletivo RJ Verdade Memória e Justiça

ANA MARIA MULLER

5 comentários:

  1. Gente, me somo a essa iniciativa do Coletivo RJ, Memória, Verdade e Justiça. Como ex-aluno da UFF, considero ultrajante que uma universidade que teve muitos alunos cassados e expulsos pela famigerada Lei Suplici, outros tantos presos, torturados, exilados e alguns assassinados brutalmente na Casa da Morte, como Ivan Mota Dias (aluno do Curso de História) se associe a um evento dessa índole. Só na minha turma de Ciências Sociais do período 1966-1969, de um total de cerca de 15 alunos, apenas 8 chegaram à formatura, os demais foram perseguidos, cassados, tiveram que passar à clandestinade, foram presos, torturados, exilados, banidos. Além dos inúmeros professores e funcionários perseguidos e cassados. Trata-se de um desrespeito à memória da própria UFF, às suas tradições democráticas e a todos aqueles que lá, no exercício de suas vidas acadêmicas discentes ou docentes aprenderam a conhecer mais de perto a história , a ciência, a amar o Brasil, a liberdade e assumir compromissos com um futuro digno para o povo brasileiro.
    Umberto Trigueiros Lima

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  2. Ola
    Sou filho de prisioneiro politico, torturado e monitorado durante a ditadura civil-militar de 1964, hoje resido em Niteroi.
    Sou militante em Direitos Humanos e me somo a voces
    Jose Luiz da Silveira Ballock
    Fone 21 3723 7007

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  3. Que absurdo!!! Como a UFF, pelos seus docentes, possibilita uma loucura dessa!!? O departamento de história mudou muito nestes últimos anos e mostra a sua cara conservadora e fascista... LAMENTÀVEL!!!

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  4. "Como vai abafar
    Nosso coro a cantar
    Na sua frente
    Apesar de você"

    (Chico Buarque)

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  5. Nota sobre o evento, publicada pelo Instituto de Estudos Estratégicos, à respeito da utilização de seu nome como apoio em cartazes do evento (http://imageshack.us/photo/my-images/820/86284810200976239274218.jpg/) e na publicação oficial, no site da reitoria da UFF:

    http://www.inest.uff.br/index.php/not/494-nota-a-comunidade-academica

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