quinta-feira, 12 de julho de 2012

Para salvar o passado do esquecimento





O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer. Walter Benjamin


É fato público, notório e vergonhoso que o Brasil é o país mais atrasado do Cone Sul em matéria de direitos humanos. Enquanto países vizinhos, como Argentina, Chile e Uruguai, promoveram ações de investigação e condenação de agentes do Estado que participaram de ações repressivas durante seus governos militares, no Brasil sequer houve a abertura dos arquivos da ditadura. Recém tivemos a aprovação de uma Comissão da Verdade, mas que, ainda, tem deixado a desejar no que tange a participação da sociedade civil em seu processo de criação e, agora, de funcionamento.
No entanto, militantes, familiares, movimentos e organizações que fazem esse debate seguem insistindo na luta de contar uma história que vem sendo silenciada: há mais de um ano, no dia 01 de dezembro de 2010, um importante ator dessa luta, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis, promoveu um ato-evento em comemoração dos 25 de lançamento do livro Brasil: Nunca Mais naquela cidade. Na ocasião, o CDDH - que tem como um dos seus fundadores o notório teólogo Leonardo Boff e mais de 32 anos de existência como organização - entregou ao prefeito da cidade, Paulo Mustrangi, uma moção para a desapropriação da Casa da Morte, localizada no centro de Petrópolis e considerada por alguns historiadores o pior porão montado pelo regime militar para as práticas de tortura, assassinato e ocultamento de cadáveres dos opositores do regime. A única testemunha sobrevivente de que se tem notícia é Inês Etienne Romeu, que deu um depoimento à OAB/RJ em 1979 falando da casa - também conhecida como "Casa dos Horrores", "Casa da Tortura" e "Codão", de onde ninguém parecia conseguir sair vivo. Também o psiquiatra Amílcar Lobo citou a existência do centro clandestino em seu livro de memórias "A Hora do Lobo, a Hora do Carneiro". 
Transformando o antigo espaço no Centro de Memória, Verdade e Justiça, o desejo é operar a imprescindível tarefa ético-política de salvar o passado do esquecimento, edificando o presente e não acatando a abordagem de um "futuro melhor" preconizada pela famigerada Doutrina de Segurança Nacional que justificava as práticas repressivas do Estado.
Para fortalecer as pressões pela desapropriação da Casa da Morte, foram lançados um abaixo-assinado online e uma campanha para a transformação do local em Memorial. O alvo da reivindicação deixou de ser tanto a prefeitura, estando também endereçado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que tem competência para tanto. Diversos movimentos e organizações apoiaram a iniciativa, tais como o Grupo Tortuta Nunca Mais/RJ, a OAB/RJ, o Instituto Frei Tito de Alencar e, claro, este Coletivo, além de militantes, familiares e outras pessoas que também querem a referida casa como espaço de mais vida e resistência.
Mais de um ano se passou, uma série de debates públicos foram realizados em torno da temática da abertura dos arquivos da ditadura e, não sem dificuldade, a mobilização da sociedade e imprensa locais foram acontecendo - a ponto do atual proprietário da casa se declarar contra a tortura e disponível para uma aproximação.

A campanha para transformação desse nefasto centro clandestino de tortura e assassinatos em lugar de Memória e Resistência permanece, e é parte da necessária tarefa que temos como sociedade civil de lembrar para que outro presente seja possível.

Assine a petição online aqui:

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